sexta-feira, 31 de julho de 2009

Por detrás da máscara



Por detrás da máscara

Por detrás da máscara um olhar que não acompanha o sorriso dos lábios traídos pelas janelas da alma. Indiscretas janelas, impotentes para esconder a falsidade do sorriso, permitem entrever a angústia incontida. Dura realidade: fingir. O casamento vai mal, a família em desarranjo, dívidas que se acumulam, mas manter as aparências é preciso. Vazio extremo.

Contentamento representado, máscaras que escondem um sujeito solitário em sua dor, ignorante quanto ao fato de que nem tudo é como parece ser, não consegue enxergar que vê máscaras e que por trás delas há iguais no sofrimento, fracasso, medo, pessoas que choram e se angustiam, incompreendidas, impedidas de falar da dor. Nas mazelas, iguais, embora finjam pairar acima do bem e do mal.

Discursos foram sendo culturalmente apreendidos, inconscientemente assimilados, e o sujeito foi gradativamente sujeitando-se à uniformização dos seres. Vontades padronizadas atendem um comando invisível, e ditatorial. Padronizam-se os corpos sob o discurso da estética. Cabelos lisos para todas! Determinam os cabeleireiros (isso até uns dias atrás, porque agora eles acham que o momento é dos cacheados). Estilistas ditam as roupas, arquitetos a cor das salas de estar, dos quartos, o tipo de revestimento dos banheiros, das cozinhas e joga-se no lixo o que estava pronto, porque não se pode ser desigual.

Houve um momento em que era chique usar granito no chão das casas e houve uma gastança enorme. Caiu de moda e as pessoas quebravam o granito para substituir por porcelanato, então um decorador foi à TV e pediu: “Não quebre seu granito, pois é uma pedra extraída da natureza e vai entrar em extinção”! Mas quem se importa? Se mudar o piso puder acrescentar algum brilho aquele olhar por trás da máscara, dane-se o granito e faça-se a vontade do decorador, pois é necessário ser chique e chique é ser igual.

Enquanto se discute o preço, a marca, a cor, deixa-se de pensar a própria vida, ficam momentaneamente de lado os desamores, mas a vida é única, por isso é melhor vivê-la com um sorriso no rosto, sorriso de lábios e olhos, sabendo o que se quer de verdade, para poder dizer não a qualquer tirania. Vida sem máscara, sem medo de expor a dor, sem medo de ser diferente, de deixar vazar o choro que lava a cara e a alma e dá liberdade para seguir adiante e ser feliz de verdade.

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