quarta-feira, 14 de julho de 2010

Gostar de Si mesmo



A solidão incomoda. Ela nos põe frente a frente com o nosso eu, e estar nessa posição é, para algumas pessoas, muito desagradável. Para escapar, ligam bem alto a TV, o som, falam sozinhas, provocam qualquer tipo de interferência que as tire desse embate. As mais angustiadas se refugiam na geladeira, se enchem de guloseimas que possam preencher o vazio que sentem, isso parece menos pior se as comparamos às que recorrem ao álcool ou outras drogas.

Quando estamos na companhia de quem amamos, admiramos, respeitamos, nos sentimos bem. Se estar a sós conosco mesmos nos faz mal, é sinal de que não nos estimamos suficientemente, ou seja, há algo errado com nossa autoestima. Quem se ama, se respeita, se admira se sente bem consigo mesmo, tem autoestima elevada, e pode suportar muito bem um período de solidão.


Gostar de si, requer autoconhecimento e autoaceitaçao, mas a maioria das pessoas se conhece e se reconhece apenas na sua relação com os outros, elas dizem: eu sou uma pessoa carinhosa, amiga, gosto de ouvir os outros, gosto de ajudar as pessoas, trato bem todo mundo, não gosto de dizer não, etc.; sabem do que gostam, mas não sabem quem são, ou o valor que têm.

A definição que fazem de si mesmas se baseia no modo como se relacionam com as outras pessoas e, na ausência destas, perdem a referência, ficam com a sensação de que nada mais resta de bom, o que as deixa melancólicas. Não conseguem perceber que são seres de valor e que, portanto, valem tanto como aquelas outras pessoas que julgam tão superiores ou mais importantes que elas.

Nossa sociedade ignora o Ser e excessivamente valoriza o Ter. Se alguém ostenta bens, é apontada como uma pessoa feliz, realizada. Olhando de longe, tem-se a impressão de que são aceitas, quando às vezes são apenas bajuladas.

SER é estar fundamentado no conhecimento dos valores que integram o eu, como: índole, natureza, temperamento, qualidades morais, que são aspectos inerentes ao caráter e expressam a nossa essência, valores que, embora toquem nossas relações com os outros, não dependem dessas relações para existirem, são patrimônio nosso, inexpugnável, garantidores de plenitude.

Saber quem somos nos dá sentimento de completude, nos capacita a gostar de nós mesmos.

Autoestimar-se é gostar de si mesmo, é estar satisfeito com quem é. Significa estar confiante e seguro no modo de ser, é identificar em si qualidades, valores, potencialidades, mas também defeitos ou imperfeições, incapacidades, impossibilidades, porém amar-se, aceitar-se, apesar disso, porque afinal todos os seres humanos, sem distinção, são incompletos.

A necessidade de aceitação pelos outros é proporcional à medida da autoestima. Quanto mais baixa a autoestima, maior a necessidade de aceitação e mais insuportáveis os sentimentos de rejeição ou inadequação. A autoestima engloba autoimagem, autoconceito e autoaceitaçao.

A autoimagem começa a formar-se na infância na convivência familiar, influenciada não só pelo que é dito, verbalizado, mas também pelo não dito, mas sugerido, insinuado nas atitudes e gestos e inconscientemente captado pela criança. As figuras parentais são os melhores construtores ou destruidores da autoimagem infantil por serem as pessoas mais próximas, e garantidoras da segurança no início da vida de cada um.

Não só os pais, mas outras figuras parentais como tios, avós, irmãos mais velhos, e posteriormente professores, são responsáveis, na maioria das vezes, pelos sentimentos negativos que tantas pessoas arrastam vida afora, tais como: rejeição, inadequação, imperfeição, incapacidade e outros.

Encontramos pessoas infelizes e culpadas, por não terem nascido com a cor da pele, o tipo de cabelo, a maneira, ou mesmo o sexo que os pais gostariam e isso lhes foi expressado de forma negativa na infância, através de críticas ou ridicularizações, causando-lhes um sofrimento que percorre a existência.

Autoimagem é como a pessoa se vê: feia ou bela, gorda ou magra, atraente ou desengonçada, alta demais, baixa demais, orelha grande ou pequena, lábios grossos ou finos demais, etc. e afeta a sua autoestima. A ideia que têm, pode ou não corresponder à realidade, como acontece com as pessoas com transtorno dismórfico, ou transtorno de imagem, que frente ao espelho veem o que não existe de fato.

Por vivermos numa sociedade que cultua o exterior das pessoas: a beleza, a juventude, a magreza, convivemos com pessoas anoréxicas e bulímicas, que, em detrimento da própria saude, tentam enquadrar-se no padrão exigido, tomando medidas desesperadas, na expectativa de serem aceitas, amadas, respeitadas.

Autoconceito é a soma das imagens e opiniões que temos sobre nós mesmos. Se positiva teremos opiniões afirmativas relacionadas às nossas capacidades e ou potencialidades, se negativa nosso autoconceito será negativo: não sei, não posso, não sou capaz, nunca vou conseguir.

O autoconceito negativo começa a ser construído na infância, quando, muitas vezes são requeridas das crianças realizações para as quais elas ainda não desenvolveram habilidades e, por não conseguirem executar a tarefa, são criticadas, humilhadas. Se, todavia, for valorizado o esforço empreendido, haverá contribução para o desenvolvimento de um autoconceito positivo.

Existem pessoas altamente capazes, bem sucedidas, prósperas, mas que apesar disso, têm um baixo autoconceito. Conscientemente sabem das suas conquistas, reconhecem o esforço que fizeram, o tempo que investiram, os títulos conquistados, as batalhas vencidas, mas não conseguem se apropriar inconscientemente de suas conquistas, não as integram ao ser e, em consequência não conseguem se perceber vitoriosas. Faltou-lhes reconhecimento por parte das figuras parentais, as conquistas, não foram reconhecidas, o esforço foi ignorado. As exigências foram cumpridas, a meta alcançada, mas o reconhecimento foi mesquinho.

Autoaceitaçao requer autoconhecimento, ou seja a apropriação dos valores que fundamentam o ser, integração ao eu das capacidades, qualidades, valores. Reconhecimento das potencialidades, apropriação e internalizaçao das conquistas, reconhecimento do esforço empreendido em cada etapa da vida, compreensão de que a imagem externa é importante, mas o que importa de fato é a nossa essência, nosso ser, e que se nos amarmos nenhum desamor poderá nos tornar menores. Se nos aceitamos podemos suportar sempre uma cota de rejeição, porque ninguém jamais será aceito o tempo todo por todas as pessoas.

Identificar as nossas deficiências, fraquezas, fragilidades, incapacidades, debilidades, impossibilidades é fundamental sim, mas apenas para nos certificarmos de que paralelamente a elas, há o que realmente conta, que são nossos valores positivos, e que, além disso, se quisermos, podemos melhorar e transformar em valor muitas das nossas fraquezas.

Tiago1. 4 - Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes.