quarta-feira, 5 de maio de 2010

A Família em Crise

A instituição familiar que, durante décadas e gerações, esteve assentada sobre um modelo patriarcal rígido, vive hoje momentos difíceis, foi pega de surpresa pela evolução do pensamento, pela politização das mulheres tardiamente alfabetizadas, enfim, pela emancipação feminina.

As mulheres, pensantes, críticas (o acesso à educação lhes proporcionou isso), reagiram, foram à luta, ganharam voz e conquistaram espaços e direitos, opondo-se à opressão masculina que ocorria, não só dentro de casa, mas em qualquer lugar onde elas ousassem atuar. Sua luta era lícita, assim como suas conquistas, entretanto, não há como negar que esse movimento tão necessário afetou profundamente a instituição familiar.

A causa da fragmentação da estrutura familiar não é a emancipação feminina, e sim a rapidez em que ocorreu mudança nas relações que, pareciam estáveis, mas se assentavam sobre uma estrutura que já não podia suportá-las. Não houve tempo para ajustamentos, a vida é dinâmica. As pessoas continuaram casando-se e constituindo família, enquanto tentavam se ajustar a um novo funcionamento.

Os homens ficaram atônitos, foram pegos de surpresa com o avanço da força da mulher que desautorizava o massacrante autoritarismo masculino. Num dia o sistema era patriarcal e no outro tudo estava desmoronando. É impossível precisar quanto tempo levaremos até que a poeira abaixe e as relações se acomodem, o que sabemos é que a família vive uma fase difícil, sem comando, numa aberta crise de autoridade.

Durante o sistema patriarcal, autoritário o pai mandava e pronto! Mandava nos empregados, nos filhos, na mulher, na casa, em tudo. Não havia espaço para questionamentos ou negociações. O diálogo, a negociação teria propiciado uma transição gradual, mas o autoritarismo não negocia, não abre mão do poder e ao ruir expõe toda a fragilidade do sistema e, neste caso, colocou em situação de risco a instituição familiar.

Saímos de uma situação de negociação zero, para a negociação em excesso. O fim do autoritarismo criou uma lacuna de autoridade nos lares. Os pais temendo ser autoritários se tornaram permissivos, não se dão conta de que as crianças precisam dialogar sim, e de compreensão, amor, mas também de estar sob uma figura de autoridade, ou seja precisam ser barradas. Elas não têm maturidade para impor sua vontade aos adultos, eles é que devem saber o que é melhor para elas, a função destes é educar, ensinar a discernir o certo do errado, o justo do injusto, disciplinar, dando a elas a noção de hierarquia tão necessária à vida em sociedade. Uma das funções do adulto é frustrar a criança, para que ela aprenda a lidar com a frustração, que é fundamental a um desenvolvimento psíquico saudável.

É impossível educar e ser simpático o tempo todo, uma dose de antipatia, de desagrado será necessária sempre durante o processo de educar. As crianças aprendem a enfrentar isso, mas muitos pais, de forma infantil, concorrem entre si para serem simpáticos, e mais queridos pela criança, e nesse jogo se abstém de educar, de exercer autoridade, que significa ser, às vezes, antipático e frustrador. São pais que não conseguem lidar com frustrações e sentem medo do desagrado que será manifestado de forma natural pela criança.

A vida é maravilhosa, tem muitos encantos e dá muito prazer, mas é também antipática, desagradável, frustrante, nos nega a maioria dos prazeres que gostaríamos de desfrutar. Quem não aprende a lidar com frustrações na infância, sofre muito com as frustrações da vida. É na infância que aprendemos a entender que as negativas fazem parte do mundo em que vivemos, mas que precisamos conviver com elas.

Educa a criança no caminho em que deve andar; e até quando envelhecer não se desviará dele. Prov. 22.6