quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Questões familiares



Questões familiares

A instituição familiar foi palco de uma série de mudanças nos últimos anos. A organização antes predominantemente patriarcal, perdeu a sua forma diante das novas configurações que surgiram como resultado das rápidas mudanças dos valores sociais. Essas mudanças nos põem diante de arranjos familiares antes improváveis. Os laços conjugais deixaram de ter a duração de antes e, facilmente desfeitos hoje, permitem a abundância de núcleos familiares diferenciados.

Há famílias formadas por casais que tanto o homem como a mulher, têm filhos de casamentos anteriores que convivem juntos na mesma casa e, em alguns casos com os novos filhos que surgem da nova união. Há núcleos compostos por mãe e filhos ou por pai e filhos, constituindo famílias monoparentais, núcleos originados das chamadas “produções independentes”, podendo essas produções ser femininas ou masculinas, como é o caso do cantor Ricky Martin, que tem filhos gerados numa barriga de aluguel e que vivem com ele apenas, sem a mãe. Há famílias formadas por pares homossexuais que adotam crianças, além de outras novas possibilidades de formações que surgem a cada dia.

Qualquer que seja a formação, entretanto, é real e verdadeiro o desejo da manutenção do vínculo familiar, tarefa essa que demanda determinação e criatividade. Estar incluído em um grupo familiar e social é fundamento necessário à aquisição, pelo sujeito, de conteúdos estruturantes da sua personalidade.

A criança assimila tanto a história familiar, quanto o discurso inconscientemente organizado, no sentido de transmitir e preservar a imagem da família. Cada criança que “estréia” em um grupo familiar torna-se um elo de uma cadeia pré-existente e nesse lugar, onde não escolheu estar, será construída a sua subjetividade não só a partir do que herdou dos seus ancestrais, mas também do que capta, não só de forma consciente, mas principalmente inconscientemente no enredo que se desenrola na trama familiar.

É cada vez maior a importância do tempo para dialogar, nesta sociedade que vive com pressa e faz da família uma entidade sem tempo para conversas. Dialogar é escutar e não simplesmente ouvir, é compreender, esclarecer, acolher, trocar idéias e informações, dissipar dúvidas. O percebido ou captado captado no seio familiar, ganha contornos delineados pela imaginação da criança, se transforma em “verdades” tecidas nas fantasias da mente infantil, podendo vir a se transformar em conflitos emocionais, assombrar suas vidas e modelar suas decisões.

É a incerteza e relatividade das relações familiares, aliadas às exigências da vida atual, que aumentam a angústia dos sujeitos, aprisionando-os a uma insatisfação constante. Não é por acaso que vemos aumentar o índice de criminalidade, violência, uso de drogas e alcoolismo entre os jovens e adolescentes.

Ackerman em Diagnóstico e tratamento das relações familiares, (artes Médicas, 1968, p. 32) escreve: “Basicamente, a família tem duas funções: assegurar a sobrevivência física e construir a humanidade essencial do homem. A satisfação das necessidades biológicas é essencial para a sobrevivência, mas a simples satisfação dessas necessidades não garante de forma alguma o desenvolvimento das qualidades de humanidade.

A qualidade de humanidade está descendo a níveis cada vez mais baixos, e tende a piorar se não houver, nas famílias, um amplo investimento afetivo, que possibilite segurança emocional baseada num discurso coerente e firme. A carência de firmeza nas relações entre pais filhos tem contribuído para gerar, em escala crescente, superegos fracos, ou seja, pessoas que não internalizaram regras e limites, seres sem compaixão.

A falta de regras e limites internalizados, traz as conseqüências sociais que vemos refletidas no aumento da violência urbana em todos os seus aspectos: Violência não só contra a vida, mas também no trânsito, nas escolas, explícita no desrespeito pelo direito e espaço do outro, e também, no uso abusivo de drogas, que é uma violência contra si mesmo.

Os novos arranjos familiares são uma constatação irrefutável, e muitas das pessoas chefiando famílias, pegas de surpresa pela velocidade das mudanças sociais, não perceberam que é da família a responsabilidade de transmitir aos “recém chegados” os valores e normas que dão suporte à convivência social.

É a família que prepara o individuo para o exercício da plena cidadania na vida social. Investir tempo nessa preparação é condicionante para dar segurança emocional, evitar desprazeres oriundos da quebra das normas sociais, além de reforçar e cimentar o vínculo afetivo do grupo familiar.

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