terça-feira, 24 de maio de 2011

Família: Ouvir ou escutar?


Há uma diferença significativa entre ouvir e escutar. Ao ouvimos uma boa música ela entra pelos nossos sentidos, nosso corpo balança ao seu ritmo, nossa mente voa e pode inclusive focar-se em outra coisa, ou seja, ouvir permite que a atenção seja dividida e é nisso que diferencia-se de escutar, porque escutar requer atenção concentrada. Quando escutamos a mesma música, percebemos a riqueza da sua melodia com todas as suas variações e principalmente a mensagem que o autor comunica.


Ouvir é função natural do aparelho auditivo, os sons entram sem pedir licença, mas escutar é outra coisa, a escuta envolve atenção, interesse, disposição, exige silêncio interior, calar as vozes da nossa mente para assimilarmos, entendermos acolhermos a mensagem que vem do outro.


Na família a escuta é fundamental, e o seu requisito é o interesse por quem nos fala, por seus sentimentos, por sua expressão enquanto fala, pelo que ele comunica com todo o seu ser. Em muitos casos há uma distância grande entre o que a pessoa fala e o que ela comunica, mas só podemos perceber se ouvimos com o coração, se escutamos com a alma.


Porque é tão difícil escutar? Porque a escuta mexe conosco, com nossos afetos, nossos conflitos, nossa dor e nos confronta com a nossa impossibilidade, nossa impotência. Em função disso armamos nossas defesas, por isso é comum ouvirmos na defensiva, ou maquinando soluções, conselhos, articulando recriminações e críticas e no final entendemos tudo errado.


Quem nunca ouviu de alguém o seguinte: “Você entendeu tudo errado! Não foi isso que eu disse!” E não foi mesmo, é que nossas defesas funcionam como ruído que interfere na comunicação familiar, como se um Boeing estivesse passando a meio metro da nossa cabeça.


Ouvir com o coração é escutar é perceber que junto com a fala há gestos, expressões e sentimentos que nos ajudam a decifrar a mensagem, mas só podemos perceber essas nuances se estivermos interessados no outro, nos que sente, na sua angústia e não concentrados nas suas falhas.


Se uma criança cai, e se machuca, corre para um dos pais em busca de conforto, e não espera que lhe digam: “bem feito! Eu avisei! Você não ouve, é desobediente!” Não! Ela quer ser acolhida, quer que a peguem no colo, lhe enxuguem as lágrimas e, se possível, lhe beijem o “dodói”, ela quer ser compreendida na sua dor, mesmo sabendo que errou. Ainda somos assim, desejamos ser acolhidos na nossa dor, mesmo quando erramos nas escolhas.


Quando angustiados por um problema, dúvida ou incerteza, ou quando fizemos uma besteira, não compartilhamos, para ouvir crítica, repreensão, conselho ou sermão, buscamos acolhimento, amparo, aceitação. Todos em nossa casa, querem e esperam isso de cada residente.


Muitos casamentos fracassam porque os casais não escutam um ao outro, e acabam indiretamente estimulando envolvimentos extraconjugais que se iniciam com um papo para desabafar, "abrir o coração", que no fim evoluem para outras formas de relacionamento. A mesma coisa ocorre nas relações, entre pais e filhos, que se deterioram distanciando uns dos outros, por falta de uma escuta positiva.


Temos a tendência de achar que os outros são problema, mas, na maioria das vezes, o problema é a forma como reagimos aos outros, ao que eles dizem, ou melhor, ao que achamos que dizem.



Tiago 1.19 - Lembrem disto, minhas queridas irmãs e irmãos: Cada um esteja pronto para ouvir, mas demore para falar e ficar com raiva.

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